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São Paulo contabiliza mais de 300 ocorrências por dia de violência contra mulheres

  • jornal360vergueiro
  • 4 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 8 de nov. de 2020

Aumento de casos ocorreram durante a quarentena, para especialistas, esse número é resultado da permissão para denunciar os crimes através da internet

Por Ariane Almeida, Julia Wellmann, Leila Lima e Nathalie Oliveira

Foto: Nathalia Pagliarini/Governo do Estado de São Paulo


Com a tomada das medidas de isolamento social devido à Covid-19, o número de casos de violência doméstica no Brasil aumentou exponencialmente, segundo dados recolhidos por organizações não governamentais e delegacias especializadas em crimes contra a mulher.


A ONG Nova Mulher, localizada no bairro Cachoeirinha, zona oeste de São Paulo, faz apoio às vítimas desde 2015. Uma das principais visões empregadas pela instituição é apoiar as mulheres até onde elas permitirem. “O atendimento começa com a escuta ativa do caso, do histórico da violência vivida, da existência, ou não, de uma rede de apoio”, explica Marcia Regina Victoriano, socióloga e diretora-presidente da entidade.


Marcia Regina destaca que, durante a pandemia, os atendimentos aumentaram em até 35% e também elenca as dificuldades no acolhimento. “A vítima tem que decidir vir, querer compartilhar seu caso, depois buscar orientação. Não necessariamente implica em denunciar para a polícia. Muitas vezes, ela não se reconhece em situação de violência porque ainda não sofreu agressão física. Por isso não procura ajuda.”


O papel do psicoterapeuta também é muito importante. “Aqui cabe ter a escuta ao sofrimento daquela mulher, o entendimento do que ela quer fazer, o fortalecimento de suas capacidades, com a compreensão das potencialidades e limitações. Denunciar geralmente é delicado, e corre-se o risco de retraumatização, se não respeitar o tempo dela”, diz a psicóloga Daniela Silveira Rozados Cepeda, que possui experiência no atendimento a mulheres que se encontram em relacionamentos abusivos e que foram vítimas de violência desde 2017.


Daniela ainda cita uma das possíveis causas que elevou o número das agressões durante a quarentena. “O isolamento é algo muito prejudicial. E algo que o parceiro acaba provocando é o distanciamento de amigos e familiares. Muitas vezes é difícil para a mulher falar da violência, e até mesmo perceber que está numa situação assim.”


Uma vítima de Sorocaba, que preferiu não se identificar, conta as dificuldades que teve ao prestar uma queixa contra o pai. “Ele sempre foi um homem machista, agressivo e possesivo. Minha mãe não podia trabalhar nem ter amigos. Com o passar dos anos, tudo isso só piorou, somado ao uso de drogas e álcool”, conta. “O estopim foi ele começar a dirigir as agressões também contra a minha irmã. Minha mãe não suportou e decidiu dar um basta na situação recentemente”, complementa.


Segundo a delegada Débora Mafra, titular da Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM) do Amazonas, quem tem medo de registrar uma denúncia precisa contar com o apoio de familiares e amigos para se sentir emocionalmente segura. Ela também ressalta que a certeza de justiça ao fazer um B.O é garantida pela Lei Maria da Penha. “É o que dá a presunção de veracidade nas palavras da vítima. Temos juízes, promotores e defensores no processo que analisam com todo o cuidado necessário, no sentido de proteção à mulher”, finaliza.


Desde o início da pandemia a Polícia Civil ampliou a possibilidade de utilizar a Delegacia Eletrônica para registrar delitos dessa natureza. De acordo com dados divulgados em agosto pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, no período de abril a junho, das 29.117 ocorrências, 5.559 foram feitas através da internet, o equivalente a 19,09% do total.

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