Cenário de isolamento social faz a população transgênera sofrer com aumento de violência
- jornal360vergueiro
- 4 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de nov. de 2020
De 1º de janeiro a 31 de agosto deste ano, número de assassinatos teve um aumento de quase 80% em relação a 2019
Por Giovana Motta, Jonathan Gomes, José Guilherme e Nicholas de Oliveira

Foto: Foreign, Commonwealth & Development Office/Flickr
Quando assunto é vulnerabilidade e exposição à violência no Brasil, os dados evidenciam fatos e expõem a fragilidade dos transgêneros no cenário nacional. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), houve um aumento de 70% no número de assassinatos de pessoas trans no período de 1º de janeiro a 31 de agosto de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. Neste ano, os números chegam a 129 assassinatos contra 76 no ano passado, um aumento de quase 80%.
Pâmela, conhecida como Giva, que trabalha como garota de programa e é transexual, afirma que ela e quase todas as amigas já sofreram algum tipo de agressão em decorrência de sua identidade de gênero. “É muito difícil essa nossa vida perante a sociedade heterossexual”, disse. “Eu tenho medo, sim, de lugares públicos, porque a homofobia existe por parte de todos.”
Ela afirma, ainda, que possui dificuldade para conseguir um emprego e que nunca trabalhou com carteira assinada. “Eles dão preferência para as lésbicas. Acho que, do ponto de vista deles, elas são menos chamativas”, completa.
Entre os abusos e as violências que as pessoas trans sofrem, a exploração sexual é uma das mais recorrentes. Em uma matéria para o site UOL, em 1° de abril de 2019, Luciana Gebrim, delegada da Polícia Federal, disse que essas vítimas não conhecem alternativas diferentes da exploração sexual como forma de obter alguma renda. “A principal dificuldade é fazê-las entender que o que passaram (a exploração) é ilegal”, explica a delegada.
Rafaela Sanches, também transexual, e que define seu trabalho como “profissão esquina”, afirma que os seus agressores nunca foram ou são punidos. Assim como Gina, Rafaela diz que travestis e transexuais possuem dificuldade de encontrar um emprego. “Acabo na rua de prostituição, pois preciso me sustentar”, finaliza.
Luma de Andrade, a primeira travesti a se doutorar no Brasil, é autora do seguinte excerto sobre a situação da população TT (Transexuais e Travestis): “A maioria das políticas públicas referentes a travestis e transexuais é direcionada para a prevenção de doenças e ao combate à exploração sexual e não para políticas de inclusão na escola e no trabalho”.
Neste período de pandemia, as desigualdades e a exposição ficaram ainda mais evidentes, de acordo com a Antra. A maioria da população trans não conseguiu acesso às políticas emergenciais do Estado devido à precarização histórica de suas vidas e não possui outra opção a não ser continuar o trabalho nas ruas, expondo-se ao vírus e à violência transfóbica.
Ainda segundo a Antra, diversas instituições da sociedade civil, de órgãos governamentais de proteção à população LGBTI+ a órgãos de segurança têm buscado formas de enfrentar essa situação, mas ainda não houve ação efetiva alguma até o momento.
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