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Como o Black Lives Matter repercutiu em manifestações contra o racismo no Brasil

  • jornal360vergueiro
  • 4 de nov. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 8 de nov. de 2020

O movimento antirracista americano ganhou visibilidade mundial após a morte de George Floyd, em maio desse ano

Por Lara Heloysa e Naiara Ribeiro

Foto: Silvia Izquierdo/AP Photos


Em fevereiro de 2012, Trayvon Martin, um adolescente negro americano, estava indo à casa de seu pai quando foi covardemente assinado por George Zimmerman, um policial branco que fazia patrulha como vigilante no bairro. No ano seguinte, Zimmerman foi absolvido do crime. Em meio à indignação nacional, Patrisse Cullors, Opal Tometi e Alicia Garza, ativistas na luta contra o racismo nos Estados Unidos, criaram um movimento para denunciar crimes praticados contra afro-americanos.  A organização foi batizada de Black Lives Matter, “Vidas Negras Importam”, em português literal.


O movimento só ganhou força este ano, após George Floyd, um homem negro, ser asfixiado até a morte por um policial branco. O crime aconteceu em 25 de maio, na cidade de Minneapolis, e gerou uma onda de protestos nos Estados Unidos e no resto do mundo contra a violência que negros sofrem naquele país e em diversas partes do planeta.


No Brasil, também foram observados reflexos dessas manifestações. Em diversas cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife, pessoas foram às ruas para protestar contra a violência policial e contra o racismo. Vítimas de crimes raciais foram lembradas e homenageadas pelos manifestantes. 


Nas redes sociais, o “Blackout Tuesday” (“terça-feira do apagão”, em tradução livre) teve o apoio de famosos e anônimos. O movimento consiste em postar uma foto inteiramente preta para chamar atenção e conscientizar sobre o assunto. “Acho fundamental que pessoas com grande visibilidade falem sobre o racismo e ampliem a repercussão. Precisamos falar disso o tempo inteiro, porque todos os dias temos pessoas morrendo, passando fome, sendo violentadas, e todas essas situações estão também relacionadas com o racismo”, diz Guilherme Bastos, de 26 anos, internacionalista e curador do Festival Feira Preta, em São Paulo.


Tamires Sampaio é advogada, militante do movimento negro, diretora do Instituto Lula e candidata a vereadora em São Paulo. Sobre o aumento da participação dos brasileiros em manifestações contra o racismo, ela diz que “os brasileiros, em geral, passaram a conhecer o Black Lives Matter porque essa pauta tem ganhado cada vez mais força. Mas o Movimento Negro Brasileiro luta contra o genocídio aqui há muito tempo. Eu diria que desde que o primeiro negro escravizado pisou aqui nessas terras, existe uma luta pelas nossas vidas. Acredito que esse tema seja apoiado no Brasil, mas acho que essa luta tem sua própria versão, que é o movimento negro brasileiro.”


O racismo estrutural 


O racismo no Brasil é um problema de longa data. Acontece desde os tempos da colonização portuguesa, onde negros eram escravizados e trazidos à força para trabalhar em terras brasileiras, onde eram tratados como inferiores unicamente pela cor da pele. Com o passar do tempo, ganharam a liberdade, mas não foram criadas políticas públicas que inserissem esses indivíduos na sociedade, o que gerou problemas de desigualdade e preconceito que se propagam até os dias atuais. 


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 209,2 milhões de brasileiros, 108,9 milhões são negros (população que o IBGE considera entre pretos e pardos), totalizando 56,1% da população. Paralelo a isso, dados da ONU mostram que, no Brasil, 63 jovens negros morrem diariamente, um a cada 23 minutos. São dados alarmantes e que mostram a urgente necessidade da luta antirracista no país.


Uma maneira de combater o racismo estrutural é abordando o assunto nas escolas para que os cidadãos sejam conscientizados desde pequenos. Tamires Sampaio explica as dificuldades dessa abordagem no ensino: “Nós temos a lei 10.639, que fala sobre a obrigatoriedade do ensino da história afro-brasileira e indígena nas escolas, mas é uma lei que não é implementada. Muitos professores não têm formação adequada para tratar do assunto e a implantação desse ensino depende muito da gestão escolar. Falar sobre combate ao racismo e sobre a cultura afro-brasileira na escola é fundamental para a construção de uma sociedade antirracista e para a luta contra o genocídio”.


Sobre como pessoas não negras podem contribuir na luta contra o racismo, Tamires dá exemplos práticos: “O primeiro passo é reconhecer que as pessoas vivem numa sociedade que é estruturalmente racista e que, só por ser branco, você está fadado a ter uma série de privilégios. Segundo, fortaleça e ecoe iniciativas e produções intelectuais e culturais de pessoas negras. Votem em pessoas negras. Valorizem, repercutam pessoas negras. Contratem pessoas negras. Trabalhos, serviços, produções, enfim, tudo. Outra forma de contribuir, é trazendo a discussão sobre esses temas para que aconteça um despertar da consciência de pessoas privilegiadas para atuar na luta antirracista”.


Personalidades se manifestam


Desde a morte de George Floyd, famosos estão usando o espaço e a influência que possuem para se manifestar contra o racismo. Rihanna, Viola Davis, Michael B. Jordan, Oprah Winfrey, Lewis Hamilton e dezenas de atletas da NBA são apenas alguns exemplos de grandes personalidades que estão usando sua visibilidade para a conscientização.


No Brasil, famosos também demonstram sua indignação em forma de protestos. Iza, Elza Soares, Emicida, Camila Pitanga e Gilberto Gil são alguns nomes do nosso país ativos na luta antirracista. 


“A representatividade mostra que todas essas pessoas chamadas de ‘minorias’ existem, resistem, tem um futuro e possibilidades”, explica Guilherme Bastos. “Com isso, transformamos a sociedade, mostrando aos preconceituosos que eles têm que conviver e aceitar as diferenças entre nós. Como um preto LGBTQIA+ nascido nos anos 90, eu cresci sem muita representatividade e acompanho bem de perto essa transformação que vem ocorrendo gradualmente nas mídias e em todos os lugares.” Ele diz que sentiu na pele o que a falta de representatividade causa na vida de uma pessoa. “Venho acompanhando o que isso tem beneficiado essa geração que vem chegando agora. Ver um médico preto, uma cantora drag, uma médica preta ganhando um dos maiores realities do Brasil, uma CEO gorda, faz com que pessoas como elas vejam inúmeras possibilidades de futuro”, finaliza Guilherme. 

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