Como a falta de insumos na pandemia afeta o resultado de pacientes infectados
- jornal360vergueiro
- 4 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de nov. de 2020
Médica Fernanda Kengen de Oliveira explica como a falta de equipamentos e medicamentos nos hospitais públicos influencia no estado de pacientes internados com o novo coronavírus
Por Ana Clara Albuquerque e Beatriz Rabelo Viana

foto: https://telemedicinamorsch.com.br/
SÃO PAULO
A pouca quantidade de insumos nos hospitais públicos afetou diretamente no tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus no país. Segundo a graduada em medicina e farmácia Fernanda Kengen de Oliveira, do CTI do hospital público de Nova Iguaçu, isso foi um dos principais fatores determinantes para o número de óbitos e pessoas em estado grave até hoje, já que alguns hospitais até mesmo recusaram atendimento por ausência de material. “Com certeza teríamos um resultado diferente se tivéssemos tudo isso (medicamentos e equipamentos) em número suficiente para atender” afirma.
A médica atua na linha de frente durante a pandemia e no decorrer da insuficiência de insumos, e afirma que o país e o seu sistema de saúde não estão preparados para enfrentar tal momento. De acordo com ela, os hospitais públicos são os que mais sofrem com esse problema, diferente dos hospitais privados, que possuem grandes investidores e um poder de aquisição muito maior para poder contornar essa crise.
O coordenador de suprimentos da rede hospitalar NotreDame Intermédica, Clodoaldo Arantes de Moura, 41 anos, relata que os principais medicamentos que não são encontrados nos hospitais são sedativos e relaxantes musculares, como Propofol e Enoxaparina. Além desse desprovimento, segundo ele, também houve o aumento exagerado dos preços de utensílios que antes tinham um custo baixo, como as máscaras descartáveis, que agora são compradas por mais do que o dobro do preço antigo.
Os profissionais de saúde também apontam que pacientes em estado grave acabam ficando sem o oxigênio que precisam por não ter ventiladores pulmonares nas unidades públicas. Médicos e enfermeiros se desdobram para achar novas maneiras eficientes de tratar os infectados, tentando substituir o que não se têm por uma alternativa viável, porém, nem sempre conseguem o resultado esperado. Muitas vezes eles precisam tomar decisões difíceis para escolher qual paciente será priorizado no uso dos insumos disponíveis, dependendo da sua situação e gravidade.
E não foi somente os hospitais que tiveram essa carência - segundo a farmacêutica Erika Abrahão, 38 anos, “muitas farmácias ficaram em escassez de alguns medicamentos devido à compra exagerada da população”. Por exemplo, cidadãos diagnosticados com Lúpus acabaram sem a medicação cloroquina, que é essencial para o tratamento da doença. Assim como o álcool em gel, que teve um pico de vendas fora do normal e fez com que muitas pessoas se encontrassem sem esse produto essencial.
O número de casos no país no momento diminuiu, mas as 150 mil mortes ocasionadas pela doença no mês de outubro mostram que ainda existe uma insuficiência em relação à quantidade de insumos disponíveis, mesmo sete meses depois do início da pandemia. E essa escassez não existe somente neste momento de tensão - materiais médicos necessários no dia a dia em hospitais públicos são um fator preocupante e constante no sistema de saúde do país há muitos anos. Mal investidos e administrados, as redes públicas de saúde sempre acabam prejudicadas e sem o suporte fundamental para enfrentar tanto a rotina comum do país quanto um período de crise como este.
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