Burnout e os profissionais de TI, exagero?

O Plano de ação da ESX para conter a crise emocional dos colaboradores em Home Office

Por Pedro Henrique e Daniel Santos

Foto: Linkedin da empresa

Tarefas como Acompanhamento terapêutico e Webinares, visam à melhoria no desempenho mental dos colaboradores afetados pela crise.

Para ajudar os colaboradores em fase de quarentena, através de palestras virtuais, sessões psicoterápicas e trabalho de apoio coletivo, a empresa paulista ESX, especializada em tecnologia, vem realizando projetos desde março de 2020 por intermédio de plataformas virtuais com a intenção de fornecer apoio psicológico para seus colaboradores afetados pela síndrome de Burnout, um distúrbio provocado pelo acúmulo de estresse, exaustão e desânimo no ambiente de trabalho.

Diante do cenário pandêmico instalado globalmente no início de 2020, diversas vertentes profissionais tiveram que se adaptar aos novos meios de trabalho e a rotinas mais exigentes em virtude do combate ao novo vírus Covid-19 e a instauração imediata da quarentena. Para muitos, a tarefa mais difícil diante do atual cenário é a conciliação e reestruturação da rotina - amplamente adaptada - agora em casa, em tarefas educacionais, pessoais e profissionais.

Em conjunto ao trabalho Home Office e adaptação diária aos desafios da quarentena, surgem novos parâmetros de preocupação devido a rotina maçante e totalmente modificada: A Síndrome de Burnout. Ela age como um agente causador da elevação dos processos decadentes emocionais, decorrentes da exaustão causada pela alta exigência emocional e profissional no trabalho. O Resultado disso é a mudança de postura em relação às atividades habituais, desânimo, ansiedade e principalmente o baixo desempenho em funções e tarefas.

Na plataforma Blind, especificamente na pesquisa qualificada sob o nome de The State of Burnout (O estado de Burnout) notam-se dados que demonstram ainda melhor o crescimento desta síndrome, juntamente a explosão do vírus em 2020. Em fevereiro, por exemplo, a pesquisa da concluiu que 61% dos profissionais estavam esgotados. Já entre 30 de abril e 5 de maio, a análise para saber como estava a saúde mental em relação ao trabalho, mostrou uma elevação para 73% de exaustão dos profissionais. Os dados apontam motivos como segurança no emprego, carga de trabalho incontrolável ou descontrole total das tarefas.

ESX e o plano de ação

A empresa de tecnologia ESX, especializada em Analytics e DevSecOps, contou com um plano de ação mobilizador referente às causas de Burnout e principalmente ao cenário de saúde mental durante a pandemia. Neste plano, a empresa intensificou o projeto em duas vertentes: O Projeto de acompanhamento terapêutico para todos os colaboradores, com dois psicólogos disponíveis para atendimento (Claudio Oliveira e Miriam Caceres) e a Squad responsável por um projeto de Webinars (conferência online) sobre saúde mental que, ao contrário do primeiro, opta por um quadro de psicólogo diferente a cada mês.

Em entrevista, Paula Possa, diretora de serviços e responsável pela equipe de gestão da empresa, revela que em sete anos de flexibilização e três anos de sua atuação no cargo, o assunto de tratamento psicológico dos colaboradores sempre esteve em conversação mesmo antes da explosão da crise pandêmica. De acordo com Paula a ESX sempre esteve apta a sustentabilidade profissional e, com a vinda da doença, isto apenas se intensificou. ‘’Uma coisa importante é cuidar da parte psicológica das pessoas, então nós disponibilizamos esse apoio que chamamos de canal aberto, dando suporte pra passar por essa fase.'' A diretora não crê que a crise provocada pela Covid-19 afete direta e financeiramente a empresa e, considera que a única barreira enfrentada é a ausência do contato direto com clientes específicos, que antes mostrava- se frequente. Ao contrário, apenas em agosto, revela, houve um aumento de 15% no crescimento da empresa com tendências otimistas para o futuro.

Webinars e atendimento psicológico

Os Webinars têm como funcionamento uma palestra através Microsoft Teams, parceira da empresa, onde os alunos aprendem e discorrem sobre assuntos voltados a saúde mental. Mensalmente, o palestrante é alterado.

O quinto Webinar interno de saúde mental com o título ‘’Burnout’’, ocorreu em 27 de agosto e foi ministrado pela psicóloga organizacional e do trabalho Maria Conceição Assis. Conceição revela que o maior índice de Burnout está relacionado aos profissionais de T.I devido à rotina interligada a todos os outros meios profissionais e que falar de saúde mental ainda é um Tabu por si só.

‘’Médicos, psicólogos, professores, policiais, profissionais de TI, além de patrões e colegas, lidam com o público diretamente e precisam transparecer tranquilidade em momentos de tensão diariamente, seja para ensinar, acalmar uma discussão, lidar com as emoções humanas e até mesmo dar noticiais ruins e, com profissionais de TI não é diferente, já que além de toda a complexidade que envolve a profissão, também é preciso lidar com clientes pessoalmente ou remotamente’’.

O “Atendimento Terapêutico Breve” com o psicólogo ESX.

O atendimento terapêutico breve é na verdade uma psicoterapia no modelo tradicional dos atendimentos clínicos, porém adaptados à forma online. Claudio Oliveira, psicólogo profissional da ESX, revela, que para esta psicoterapia, o sigilo se estende ao corporativo da empresa, de modo em que há uma relação única e privada entre colaborador (agora paciente) e psicólogo. Para maior eficiência o colaborador permanece à vontade em cada sessão e não é obrigado a participar – deve haver a iniciativa de procura pelo próprio e não uma chamada da empresa – as sessões são agendadas diretamente com os psicólogos em horários flexíveis a rotina de trabalho. ‘’Houve casos que precisaram da ajuda de medicamentos e, foram encaminhados para psiquiatras”.

Para o psicólogo, o limite entre trabalho e saúde mental é colocado em uma linha tênue. “A gente chama de ‘ele sabe administrar o tempo’. A pessoa tendo uma boa administração de tempo, consegue desempenhar o seu papel no horário de trabalho. Terminando o seu horário de trabalho, ela consegue se desligar e se desfocar. Mas a grande maioria não consegue fazer isso.”

O suporte psicológico foi tão necessário que evitou casos de colaboradores pedindo ou sendo desligados da empresa por transtornos mentais e, casos de sucesso, como em ajudar a um colaborador que vinha de outra empresa com a síndrome.

“Essa pessoa não estava desempenhando muito bem o seu papel com o cliente e com a ajuda das sessões de terapias, juntamente ao one-on-one que nós fazemos com os líderes, ele começou a se desenvolver melhor, sendo elogiado pelos clientes.”

Claudio explica que a expressão One-on-one é usada para definir o encontro - pessoa para pessoa - entre o líder e o colaborador, entre o supervisor e o colaborador e alguém do RH. Apenas um bate-papo.

Segundo o psicólogo esse projeto permanecerá em andamento após a pandemia.